O ano é 1994. Você vê uma pessoa na rua, vestida com o combo mais básico possível – um jeans e uma camiseta branca – e, ao olhar para os pés, aquela sensação de estranhamento com um misto de desprezo: “o que é isso?”, pensa. A escolha de calçado – um tênis mega esportivo, com aquele perfil de academia, resulta num look desastroso, sem charme, esquisito.

Visualize essa cena em 2018: uma garota descolada, atualizada das últimas tendências, com uma saia jeans, uma camiseta bem básica, um óculos bacana e, nos pés, ela calça um par de tênis – o chamado “ugly sneaker”. Esquisito? Feio? Que nada! Mega atraente e estiloso.

Por que será que as peças sofrem essa transição de identidade com o passar dos anos? Em primeiro lugar, este é um fenômeno (felizmente) causado pela democracia da moda. Sempre enfatizo: não existe o “pode e não pode”. Com um mínimo de bom senso e de conhecimento de dress code, nada é proibido. Em segundo lugar, a releitura progressiva que as peças sofrem em meio ao contexto no qual vivemos, seja por referências ou por necessidade, agrega naturalmente essa nova interpretação – como aconteceu com os tênis.

Marcas pomposas, eternamente associadas a elegância, deram o start nessa releitura, trazendo os “dad sneakers”, como também são chamados, para as novas coleções. Algumas delas são: Balenciaga, Acne Studios e Chanel, lá fora; e Schutz, Arezzo e Bottero por aqui. O conceito principal dessa aposta visa agregar o “feio” ao “cool”, ou seja, estiloso, moderno, atual e inspirador.

Por que estes modelos repaginados ganharam estes apelidos de “ugly sneakeres” e “dad sneakers”? Bom, você deve saber que a moda é um reflexo do que vivemos em sociedade. E, em meio a um momento em que os padrões de beleza caem por terra e que a diversidade é amplamente aclamada, a moda, como não poderia deixar de ser, se apropria ironicamente do termo “feio” para dizer que “isso também é bonito” ou que “isso também pode ser legal” de usar. E por quê não seria?

Na prática: uma vez que o tênis não está mais fadado a ir conosco somente em atividades esportivas, o conforto que ele proporciona e que é, muitas vezes, super desejado, torna-o apto a nos acompanhar em outras jornadas. Um dia de trabalho, por exemplo.

Por que não eleger o tênis em um look composto por calça de alfaiataria e camisa no lugar daquela sapatilha apertada? Esfriou? Por quê não usar o tênis, com uma meia bem quentinha, para arrematar de maneira descolada aquele look de inverno? Quebre os padrões! Dê uma chance ao feio.