Quase 30 anos atrás, o lendário surfista Cisco Araña idealizou e criou a Escola Radical de Surf, no Posto 2 em Santos, e deu início à primeira escola de surfe gratuita no Brasil.

Essa escola, desde então, possui como carro chefe as aulas de surfe para a população da terceira idade, realizadas com profissionais capacitados para atender especificamente esse público.

A iniciativa foi viabilizada graças à parceria da Prefeitura Municipal de Santos com a Blue Med Saúde que, por intermédio da Associação Alvorecer, garantiu a contratação dos profissionais envolvidos (professores, coordenadores e terapeutas ocupacionais), além do fornecimento de equipamentos, como pranchas e uniformes.

Já no começo de 2020, a Escola Radical de Surf inaugurou a sua segunda unidade no Posto 3, localizada na orla do Gonzaga. E desde então a iniciativa vem transformando a realidade das pessoas com deficiências, seus familiares, a comunidade e os profissionais em geral.

Criada como uma extensão da escolinha do Posto 2, que já atendia pessoas com alguma necessidade de vivenciar o surfe de maneira adaptada, a nova escola foi necessária pela alta demanda e é a primeira escola gratuita de surfe adaptado. Todos os professores, além de surfistas, são professores de educação física e terapeutas ocupacionais.

“É um trabalho que trouxe resultados bastante positivos em termos da utilização do surfe como uma ferramenta de promoção da saúde”, comenta Antônio Vasconcelos, terapeuta ocupacional da escola de surfe adaptado.

Histórias inspiradoras não faltam na Escola Radical de Surfe. Jeny Pavani, de 40 anos, que, por conta da diabetes, perdeu a vista total do olho esquerdo e parcial do direito (8% de uma visão subnormal), rasga elogios à escola em que é aluna e funcionária: “A escola mudou e ainda tem mudado minha visão de mundo, enxergando um universo possível para quem enfrenta seus medos e não se entrega aos que não acreditam em nós, mas se impulsiona por muitos que confiam no nosso potencial. Ainda que haja algum limite físico, é um trabalho que nos estimula a ir sempre além”.

Jeny Pavani

A escola também inovou na criação de uma prancha de joelho, que permite uma mobilidade melhor e ainda tem ótima flutuação, além de permitir a prática do esporte com segurança.

A metodologia é um dos diferenciais da escola, porque ela permite o acolhimento, a escuta acolhedora, a integração, a socialização e trabalha a empatia não só com os alunos, mas também com os familiares. “Essa forma de intervir permite uma melhor prática do surfe e promove a saúde, a felicidade, a paz, o bem-estar”, comenta Vasconcelos.

As aulas têm o tempo de uma hora e vinte minutos, uma vez por semana, com cinco alunos: um cadeirante e quatro pessoas com mobilidade reduzida. As inscrições são abertas para toda a comunidade, todas as patologias, desde que tenha indicação médica.

A parceria da Prefeitura e da Blue Med Saúde é essencial para fortalecer a escola e, portanto, fortalecer a participação da comunidade, do setor privado, interação com o setor público e na promoção da saúde. “O curativo do mar e do esporte dá uma força extra para o encontro da saúde, da socialização, da felicidade, e da interação social”, finaliza Vasconcelos.