A primeira escola pública de surfe do Brasil, a Escola Radical de Surfe de Santos, localizada no Posto 2, completou 30 anos em junho. Idealizada e coordenada pelo surfista Cisco Araña, a escola é vinculada à Secretaria Municipal de Esportes (Semes), e conta com a parceria da Blue Med Saúde, que, por intermédio da Associação Alvorecer, garantiu a contratação dos profissionais envolvidos (professores, coordenadores e terapeutas ocupacionais), além do fornecimento de equipamentos, como pranchas e uniformes. Atualmente, a escola atende 380 pessoas, de 8 a 78 anos, com aulas de surfe e bodyboard.

“Nosso diferencial é a diversidade do nosso público. Atendemos idosos, crianças e pessoas com todo tipo de patologia, quebrando preconceitos e barreiras sociais”, explica Cisco Araña, que atribui o sucesso do serviço aos benefícios que o esporte oferece. “O surfe gera uma conexão com o oceano, a natureza e cria um forte vínculo de amizades entre os praticantes, formando uma tribo onde todos se ajudam”, diz o surfista.

A maior parte dos alunos integra o programa 50 Mais, voltado ao público maior de 50 anos. “Nesta idade, os filhos já não estão em casa, os problemas de saúde aparecem, muitos ficam solitários e, tudo isso junto, acaba deixando as pessoas depressivas. Ao começarem as aulas de surfe, elas se redescobrem, fazem novas amizades, voltam a viver como jovens e isso combate à doença”, explica Cisco.

Fotos: Leonardo dos Santos e Andrea Paixão Araujo

Fundada em 1991, a escola tinha foco inicial competitivo para formação de atletas, mas tudo mudou quando um idoso de 74 anos procurou Cisco para lhe fazer uma reclamação. “Ele nadava no mar e veio dizer que os alunos da escola atrapalhavam sua atividade. Eu, simplesmente, fiz o convite para ele participar das aulas. Ele aceitou e adorou”. Euclides Camargo, o idoso em questão, foi o primeiro aluno que entrou na escola sem propósito competitivo, em 1995.

Fotos: Leonardo dos Santos e Andrea Paixão Araujo

Assim, o foco da escola mudou. “Logo em seguida, começamos a dar aulas para o Valdemir Correia, que é cego. Então, fui cada vez mais abraçando outros públicos”, diz Cisco. Para que Valdemir pudesse surfar, o surfista percebeu que precisaria mudar o desenho das pranchas. “Fui fazendo pequenas adaptações. Foram dez anos até conseguirmos produzir uma prancha perfeita para ele”, comenta.

Em 2007, foi lançada a primeira prancha adaptada. Desde então, o coordenador da Escola Radical passou a desenhar e produzir esse material, que permite que pessoas com diferentes patologias possam praticar o esporte. “Ela pode ser usada por autistas, pessoas com síndrome de Down ou dificuldades de mobilidade e visão”, afirma Cisco. Assim, começou o projeto Sonhando Sobre as Ondas, em parceria com o Rotary Club Santos- Praia, para o fornecimento desse equipamento em todo o mundo, que já resultou na distribuição de 70 pranchas em vários países, utilizadas por cerca de 500 pessoas.

Fotos: Leonardo dos Santos e Andrea Paixão Araujo

Analisando toda a trajetória, Cisco diz que não poderia imaginar sua vida sem a escola de surfe. “Estou no lugar certo, fazendo a coisa certa. Eu gosto do esporte e de cuidar das pessoas. Aqui não faço apenas um trabalho técnico, é um propósito de vida, não apenas para mim, mas para todos que passam por aqui”.