No Brasil, a cultura que mata, que estupra, que corrompe e que trafica (para não dizer de outros crimes) é baseada em um tripé que corresponde ao abismo entre classes sociais, a destruição das bases educacionais e de ensino e, finalmente, a impunidade perpetrada por um sistema político-judicial lento, incompetente e ineficaz.

Diante do abismo entre classes sociais, algo que se agravou nos últimos anos, quem tem muito acha que pode tudo e quem tem pouco se encolhe achando que não tem direito a nada.

Mas pensariam diferente, quem sabe, se as bases educacionais para todas as classes, seja a do pobre, do rico ou da classe média, consolidassem uma mentalidade que, inclusive, está expressa na Constituição de 1988, que determina que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

O que nos leva a pensar nos crimes que vemos todos os dias e o quanto nossos direitos são violados. Porque hoje é com aquela pessoa que vemos na TV ou nos jornais, mas e amanhã? Será com quem?

Como a lei maior pode dizer que o direito à vida é inviolável se o Estado nega, tampouco garante de forma minimamente eficaz, a proteção que todos merecem?

Como falar em liberdade ou igualdade se há clara distinção de tratamento, em boa parte das vezes de uma forma nem um pouco velada, para quem pode “pagar” para ir e vir e conseguir ser “desigual” ao ter privilégios e garantias que muitos não têm?

Como falar em segurança se nem mesmo onde deveria haver proteção, bem como privacidade, são violados corpos e imagens de pessoas até mesmo dentro de uma sala de parto?

Tudo isso já bastaria para mostrar a falência de um país como nação, que passa longe de poder ser considerado de “primeiro mundo”, até porque “lá não é como cá”, onde se entulham pessoas e famílias nas condições mais precárias de moradias como favelas, cortiços e palafitas.

E diante desse caos generalizado que é o Brasil, discute-se, de forma bipolar, quem será o próximo presidente.

O atual, com toda a sua ineficiência para fazer o básico, o mínimo que se espera de um presidente (sem entrar aqui no mérito sobre suas opiniões e pensamentos imbecis), ou o corrupto condenado da estrela que não desiste de querer ser o messias e salvador da pátria.

Essa bipolaridade política tem causa no tripé mencionado no início, que tem como a cereja do bolo, a impunidade perpetrada pelo sistema político-judicial, mas principalmente por este último, lento, arcaico e que preza, mais do que todos, pelos privilégios garantidos pela própria Constituição.

Afinal, quem não gostaria de ter garantidos a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos (incluída aí as gordas aposentadorias), como o suprassumo dos privilégios que, infelizmente, não tornam a Justiça mais célere, mais plural e, acima de tudo, mais “justa”.

E diante de tantas injustiças, as pessoas se cansam e buscam nos seus políticos de estimação, a possibilidade de obter algum privilégio também…ainda que venham disfarçados de esmolas e migalhas.

Um povo que parece o meu cachorro, que se senta ao meu lado nas refeições, olhando pra mim como se eu fosse um rei, à espera de qualquer coisa que eu possa dar, ainda que seja apenas um pedaço de pão. É possível ser feliz assim?