Quem se lembra do “Lulinha Paz-e-Amor” e de todas as mudanças de discursos do ex-presidente, seguindo a maioria das matrizes criadas no governo FHC, faz um flashback para o governo Bolsonaro, que abandonou as pautas que o elegeram.

A intenção não é criticar o governo atual, mas encontrar empatia com parte da população que não se vê em nenhum dos ‘lados’ criados pela autodenominada direita – que, na verdade, é um pseudoconservadorismo com aroma liberal.

O bolsonarista não é de direita, apenas adere às pautas conservadoras criadas por seu líder. Seu compromisso é com a figura dele, e seu entendimento de certo e errado é norteado pelas verdades absolutas verbalizadas por ele. Esse bolsonarista viu sua frustração representada em algo que consegue compreender e, assim como um produto, fácil compreensão e necessidade geram vendas.

Bolsonaro prometeu acabar com o PT e a corrupção, privatizar estatais, vender ativos da União e armar o povo. Pautas que o elegeram, mas não foram conquistadas. Moro, o “herói”, virou traidor. O centrão antes rechaçado virou tripé do governo. A Lava-Jato foi esfacelada. Por que isso aconteceu?

Bolsonaro, depois de 20 anos de polarização PSDB x PT, encaixou um discurso e criou uma imagem de libertador da pátria. E como manter isso sem um inimigo? Nem Globo e Dória são suficientes, somente o medo da volta do PT pode manter Bolsonaro no poder – e ele sabe disso. Ele percebeu que não podia acabar com o PT, pois se fizesse isso seu discurso de inimigo perderia força. Então acabou com a Lava-Jato, expôs Moro e possibilitou nulidade para os processos. De salvador da pátria, Bolsonaro virou redentor da corrupção, do centrão e da velha política. 

O Lula será candidato? Não é impossível, caso seu processo seja anulado. Mostrando que foi injustiçado, conseguirá acender sua base e criar o clima de embate necessário para manter a militância viva. Em 2022 teremos mais uma eleição decidida pelo medo, como um plebiscito Lula culpado x Lula Inocente ou Bolsonaro Genocida x Bolsonaro Mito.

Fui pra rua tirar Dilma, vibrei com Moro, votei no Bolsonaro e não me identifico com nada disso. O cara de esquerda me culpa e o bolsonarista fala que sou “esquerdinha”. Os mais cultos falam que sou “isentão”, pois não me identifico com nada. Olho para os outros nomes e não quero ir para nenhum dos lados. Provavelmente, uma grande fatia de eleitores também não se vê representada e vai sofrer mais uma vez com o “plebiscito do medo” em 2022.